Por Cláudia C. Guerra*
Essa
história é antiga, polêmica e há versões diferentes para sua origem e
significado. Mas, de modo geral, em 8 de março de 1857, operárias de uma
fábrica de tecidos de Nova York, EUA, fizeram uma das primeiras greves
conduzidas por mulheres. Reivindicavam redução da jornada de trabalho que era
de 16 horas diárias, licença-maternidade, igualdade salarial, com melhores
condições de vida e de trabalho. Em resposta, os patrões trancaram a fábrica
com as trabalhadoras dentro, jogaram gasolina e atearam fogo. Aproximadamente
129 mulheres foram queimadas vivas.
A
II Conferência Internacional Socialista, realizada em 1910, em Copenhagen, na
Dinamarca, aprovou uma resolução, por meio da alemã Clara Zetkin, que
estabelecia o Dia 8 de Março, como o marco da luta pelo reconhecimento dos
direitos da cidadania feminina. Com o decorrer do tempo, a data passou a ser
comemorada em vários países do mundo e em 1975 foi oficializada pela
Organização das Nações Unidas(ONU) como o Dia Internacional da Mulher.
Atualmente, muitas mulheres lutam
pela não violência, pelo exercício pleno e livre de sua sexualidade, pela
igualdade de direitos e de oportunidades em todos os setores, pela divisão das
tarefas domésticas com seus companheiros e familiares, assim como pela
responsabilização do casal pela educação dos (as) filhos(as), pela igualdade
salarial no mercado de trabalho, pela ocupação em cargos de chefia e atuação
política, dentre tantas outras reivindicações cotidianas. Enfim, opondo-se a
práticas históricas de exclusão e descaracterização que possam acontecer pelo
simples fato de serem mulheres. Várias possuem garantias e vivem num mundo
melhor graças também ao sofrimento e às conquistas de mulheres do passado.
Em homenagem a essas trabalhadoras
assassinadas em 1857, o 8 de Março foi instituído como o Dia Internacional da
Mulher. Essa é uma data para reflexão de homens e mulheres sobre suas práticas
e discursos enquanto cidadãos(ãs), na construção cotidiana do social que
objetive a convivência cordial, tolerante e respeitosa, mesmo que permeada por
conflitos. Ao ser retomada a data, não se trata de desejar repetir o passado,
mas talvez ainda de realizar muitas de suas esperanças.
Em Uberlândia, ainda é significativa
a defasagem de creches/Emeis que viabilizem o exercício profissional de mulheres,
apesar de ser direito constitucional e previsto nos Direitos Humanos. Ainda
cabe a muitas delas, graças a não distribuição das tarefas de modo generalizado
e devido as construções desiguais de gênero, a tripla jornada, acumulando
afazeres domésticos e o cuidado com os (as) filhos(as). E essa responsabilidade
deve ser familiar, da sociedade e do Estado. Como falar em autonomia sem
algumas garantias que não sejam meramente formais?
Outro aspecto de destaque está no
alto índice de violência conjugal e familiar, onde a demanda, predominantemente
feminina, ainda é sujeita a infraestrutura e recursos humanos insuficientes por
parte de profissionais que nem sempre passam por formação continuada, nos
órgãos públicos de atendimentos, advindo a violência institucional. A ONG SOS
Mulher e Família tem atendido uma média de 1.500 novas famílias ao ano que
vivem violência doméstica. Em Uberlândia, ainda não foi criado o Juizado
Especial Criminal e Civil, como prevê a Lei Maria da Penha (11.340 de 2006)
para operacionaliza-la adequadamente.
Na política, apesar de serem a maior
parte da população, das eleitoras e as “tarefeiras”, os cargos de poder e
decisão não são proporcionalmente ocupados por elas.
Por tudo isso, espera-se que nas
atividades do comemorar, termo que significa trazer à memória, haja ações para
além de festividades ou uso mercadológico do momento. E que os eventos sejam
acompanhados de proposições no que tange a ampliação, criação e fiscalização de
políticas públicas governamentais e não governamentais e de oportunidades para
mudanças de atitudes de homens e mulheres, com vistas a novas experiências que
rompam com dicotomias de gênero e processos de dominação.
Assim, quem sabe no futuro, a
referida data seja desnecessária e apenas referência acerca de curiosidades do
séc. XXI.
Referências
locais importantes:
·
ONG SOS Ação
Mulher Família de Uberlândia (paz conjugal e familiar) – (34)3215-7862, novo endereço
R. Feliciano de Morais, 62, Bairro Aparecida(próximo ao SESC),
www.facebook,com/sosmulherfamiliauberlandia
·
Programa PAM
“Patrulha de Atendimento Multiprofissional” para abordagens domiciliares à
violência intrafamiliar, uma parceria da ONG SOS Mulher Família, a UFU, a
polícia militar e a PMU – (34)3215-7862
·
Núcleo de Estudos
de Gênero/UFU – (34)3239-4501
·
Conselho
Municipal da Mulher de Uberlândia – R. Guaicurus, 395 (34)3216-0319
·
Delegacia de
Mulheres de Uberlândia e CIM (Centro Integrado da Mulher – com Defensoria da
Mulher) - (34) 3231-3756, R. Cruzeiro dos Peixotos, 557
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*Cláudia C. Guerra é membro fundadora,
voluntária e da diretoria da ONG SOS Mulher e Família de Uberlândia (pela paz
conjugal e familiar) e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da UFU; uma
das constituidoras do Programa PAM “Patrulha de Atendimento Multidisciplinar”
(para abordagens domiciliares em violência intrafamiliar); professora
universitária da ESAMC e de pós graduação em outras IES; doutoranda em História
pela UFU sobre violência de gênero; mestre em História pela USP-SP; Ex-gestora
da Divisão dos Direitos da Mulher e Políticas de Gênero e Casa Abrigo
Travessia/PMU (2001-2002); Ex-Presidenta do Conselho Mun. da Mulher(gestão
2004-2006).